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Breve História do Prisma (em construção)

Prisma - Revista Cientifica do Liceu Normal Pedro Nunes (1965-66)

Pedro Ferraz de Abreu

Uma das teorias que ouo com frequncia que na esquerda (ou no meio progressista em geral) predominam os formados em humanidades e cincias sociais (sociologia, politica, economia, direito, etc.), pois que entre os que escolhem engenharia (ou as chamadas "hard sciences"), predominaria o pensamento tecnocrata ou simplesmente despolitizado.

 

A minha experincia associativa e politica na Faculdade de Cincias durante a Ditadura faz-me questionar generalizaes deste tipo. Mas o facto que devo muito a professores como Romulo de Carvalho, que ajudou a despertar, desde o liceu, a minha paixo pela fisica nuclear, e que me apoiou quando criei o "Clube de Fisica" no Liceu Pedro Nunes, e a revista cientifica estudantil "O Prisma".

 

No restam duvidas que a actividade politica de esquerda, nessa altura, era dominada por iniciativas de ordem cultural e humanista. A iniciativa de publicar o Prisma, por jovens de 14 e 15 anos, surge precisamente em reaco ao vazio de interveno noutras esferas da cincia. No seu editorial, escrevi:

 

"Foi intenco de um grupo de alunos do LIceu Pedro Nunes, ao compor esta revista, estimular o interesse pelas cincias, nomeadamente as matemticas, fisicas, quimicas e naturais, para alm do programa". "Pensaram estes alunos que, apesar das vrias tentativas efectuadas no campo da imprensa liceal (...) nunca a este assunto foi dado o devido relevo." (...)  "O alargamento dos horizontes das artes e das letras -lhes sem dvida necessrio; o estimulo de espritos poticos sem dvida til; as criticas de filmes sem dvida interessantes. Mas o estudante liceal que escolhe uma alinea de cincias possui, quase na totalidade, um desconhecimento entristecededor do tipo de matria que vai abordar futuramente, alm do que fornecido pelo programa oficial" (...) "No ser tempo de ter isto em conta?" (Prisma n1, LN.P.N, 1966).

 

A minha primeira grande lio de como a Cincia, fora do seu controle apertado, mete medo Direita, foi a proibio imediata da revista "Prisma" e o encerramento do "Clube de Fisica", pelo Reitor do Liceu. Algum que no se considerava fascista, apesar de se comportar como um bom lacaio da Ditadura.

 

Saliente-se que, em nenhum destes espaos, fora dita uma nica palavra sobre politica ou a ditadura. As aulas no Clube de Fisica, dadas pelos alunos liceais, versavam sobre a teoria da relatividade de Einstein; e os meus artigos no "Prisma" foram sobre "A nova definio do metro",  "Acido-Base", os dos meus  colegas eram sobre "Computadores e crebros electrnicos" (Barroso), etc.

(download do pdf da Revista)

 

Na realidade, nesta altura eu no tinha formao politica; apenas uma vaga, distante noo da natureza do regime. Foi a indignao por esta proibio, que senti como absurda, que me levou a aproximar-me de activistas associativos e, pouco depois, aderir a uma organizao politica clandestina. Assim, pode dizer-se que foi a prpria Ditadura que se encarregou de me despertar para a luta politica.

 

Devo muito a professores como Romulo de Carvalho, por sinal tambm poeta (Gedeão), humanista e anti-fascista, o facto de, quando desenvolvi uma conscincia politica, esta ser sempre articulada com a preocupao de aprofundar e promover o conhecimento cientifico; e a noo que o obscurantismo e o controle da cincia so posturas antagnicas aos valores da Esquerda.

 

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